Wednesday, May 17, 2006

Originalidade II

Originalidade

Um trabalho raramente louvado no mundo televisivo é o da promoção às séries que são produzidas pelos canais. Não querendo pegar no caso português, que normalmente é uma nulidade (embora aquilo que a RTP está a fazer com "Lost", nesta second season, seja um bom exemplo a seguir), nem no norte-americano, que é de profissionalismo consumado, dou dois exemplos de promoção feita à inglesa, a duas excelentes séries norte-americanas.
No primeiro caso, o anúncio realizado por Dave LaChapelle para a first season de Lost, que passou no Channel 4 britânico e que é de uma beleza e de um arrojo criativo notráveis, nunca deixando de perder de vista as relações dos personagens e as suas próprias personalidades. Quem conhecer a série, reparará melhor neste tipo de pormenores. No segundo caso, "House", em que cada um dos personagens principais se mostra lacónico, porém incisivo, relativamente à sua própria personalidade, num curioso uso da voz off.

Wednesday, May 10, 2006

"Departamento de homicídios"



A melhor série policial da história da televisão estreou em 1993 no canal norte-americano NBC e foi criada por Tom Fontana e Barry Levinson. Chamava-se "Homicide: life on the street" e tratou-se de um OVNI televisivo que sobrevoou o panorama audiovisual actual como se não pertencesse à era criativa em que surgiu; e em muita coisa, não pertencia.



O ponto de partida era simples: acompanhar a vida de 9 detectives do Departamento de Homicídios da Polícia de Baltimore, tendo como ponto de partida as vivências descritas por detectives verdadeiros no livro "Homicide: a year on the killing streets", do jornalista David Simon. A abordagem da série, porém, acabou por anteceder nuns 10 anos aquilo que se faz hoje em televisão: completamente gravada de câmara ao ombro, com montagem fragmentada e rápida e um estudo aprofundado do lado negro da pessoa humana. Mais do que saber quem cometeu o crime, "Homicide" interessa-se bem mais no porquê de as pessoas cometerem crimes e no quotidiano profissional dos detectives, com tyodas as conversas de chacha e existenciais que isso implica, sem nunca embracar em paleio filosófico. Para além disso, nunca nos deixando pensar que estamos perante uma demonstração de sofisticação criminal, mostra até homicídios que são tão estúpidos e bizarros que só podem ser uma coisa: humanos.



Incrivelmente bem escrita e realizada, a série tem porém, nos seus actores o suporte que lhe dá a força. Apesar da consistência de todo o conjunto, convém destacar o detective Frank Pembleton, interpretado por Andre Braugher, o brilhante, teimoso e voluntariamente individualista ; o John Munch de Richard Belzer, verdadeiro comic relief negro e sarcástico da série; Kay Howard, da actriz Melissa Leo, a única mulher da brigada e o coração da mesma, mesmo na forma como tenta ser por vezes mais homem que os homens; e o comandante Al Giradello, de Yaphett Kotto, um afro-italiano com uma figura imponente e uma força interior igualmente poderosa, que malha e protege os seus subrodinados em doses iguais.

As palavras têm de ser curtas e não fazem justiça à série. Vê-la é cumprir um dever perante si próprio e assistir àquela que é, porventura, uma das mais complexas, injustiçadas e melhores séries de todo o sempre.